"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

domingo, setembro 14, 2008

todo o começo

nenhuma fotografia foi hoje rasgada.
o álbum permanece intacto.
duas ou três palavras e o olhar como legenda.
os lábios certeiros, a dirigirem as horas
para lá das janelas erguidas sobre a chuva que nunca chegou.

atrasamo-nos dois ou mais minutos.
hoje é o resto dos dias.
começa sempre tudo assim.

caixas pelo chão. camas desfeitas.
e a cidade de sempre a anoitecer fora do quarto.

a lua cheia. o retrato embaciado no vidro da mesa.
um cigarro enrolado, uma ponta esquecida no cinzeiro.

luz acesa.

hoje não precisamos de estrelas.

mãos enroscadas. o silêncio a
derramar pétalas.

e este instante,
apenas um instante.

breve.
sem pressa.

e se o telefone toca
eu não estou, tu não estás.

apenas este instante.
sem pressa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ana, "you take my breath" vezes sem conta. a tua poesia é uma constante revelação. sinto-me grato pela partilha...

hfm disse...

a pressa do instante! belo!

ana c. disse...

sinto-me grata eu, por passares, por passarem, por aqui.

Ontem foi:

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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