"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quarta-feira, maio 28, 2008

And then the lights came on
In the middle of the night



Gosto destas salas forradas a dourado e vermelho, onde sentar o corpo é mágico mesmo antes de acontecer o que quer que seja em palco.

E antes de anoitecer na sala, a familiaridade de rostos, a ansiedade de ver nascer vozes por entre jogos de luzes, de instrumentos, de corpos, de máscaras.

Temo não ter bagagem lexico-musical para escrever sobre o que ontem se passou no Theatro Circo.

Talvez deva começar por dizer que o fascínio por Cocorosie começou tarde. Depois de La maison de mon rêve e de Noah's Ark. Foi The Adventures of Ghosthorse and Stillborn que me fez mergulhar nos álbuns anteriores. Foi aquela voz de Rosie (Sierra), em canto lírico, por entre rajadas de techno/hip-hop de Coco (Bianca)que me arrebatou numa tarde em que, sem esperar, o cd de mp3 colocado no leitor me surpreendeu a dada altura com qualquer coisa de invulgar. Talvez não chovesse nessa tarde. Mas arrepiava. Talvez fosse Inverno.

As máscaras são mera figura de estilo. Pleonasmo. Eufemismo. Hiperbole. Elipse. Paradoxo. Mas, sobretudo, Clímax.

Gosto de coisas simples e nada do que as Cocorosie fazem consegue condensar-se nesse adjectivo. Ainda que seja pouco apreciadora de uma linguagem electro-techno-hip-hop, não consigo deixar de ver na actuação das manas Casady arte, mesmo que, por vezes, se refugiem nesses estilos musicais. Do meu ponto de vista, mesmo que se esforçassem as Cocorosie não conseguiriam ser vulgares. A sua poética é demasiado transbordante para se anular numa música, num lapso técnico, numa noite. Por isso, compreendo que mesmo na desilusão, essa poética resista.

Desilusão foi coisa que não me aconteceu ontem à noite. Eu quis e deixei-me arrebatar.

E no caminho de regresso apeteceu-nos o silêncio. O nosso. O da chuva. Se tivesse chovido. Porque havia ainda demasiada música por dentro.

Eufonia.

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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