"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

quarta-feira, junho 27, 2007

light -year


Bill Jacobson


vê bem
o despertador tocou e não fui
permiti que a hora de sempre escapasse
que me fugissem as janelas
uma a uma
tenho uma cidade a arder dentro de mim
e não bebo para matar esse fogo
queimo-me
trago todas as guerras para aqui
não páro nas pontes nem nas janelas
contrario os abismos
quero perder todos os combóios
mas bem que podias entrar agora na minha vida
bem que podias surpreender-me e saires do meu ângulo morto
bem que podias dizer-me que não há minutos
apenas pétalas e conchas
algas
o meu luto hoje é a tua ausência
e ninguém percebe nada de nada
nem eu
tantas vezes me confundi
mas o meu luto hoje é a tua ausência
tu que nem sequer sabes que é também para ti que falo
tu ontem tu até qualquer dia tu cheguei
sabes que mais as pessoas só gostam de nós porque lhes dizemos sim
as pessoas gostam de nós como seres amorfos vazios superficiais
a facilidade atrai mais do que uma teia de silêncios
300 kms são séculos acredita
100 metros são milhares de anos-luz
eu quero ser um ponto invisível no espaço
e continuar a dizer não mesmo que isso signifique perder-te
a ti a ti a ti a ti a ti e a ti
mesmo que isso signifique perder-me
nunca mais abismos de mentiras
nunca mais
diz
eu vou só ali
em pétalas talvez duas ou três
nem um minuto
percebes
nem um minuto
entre mim e ti
nem um minuto
só não me apetecem janelas
hoje não
o despertador até tocou

mas teria preferido uma pata de gato na face
ou um ronronar a nascer-me por entre os cabelos

e há qualquer coisa aqui que não me soa bem
mas a culpa é dos pronomes

de certeza
dos pronomes*


*ontem à noite, assisti a um desenrolar de conversa entre loucos. enquanto um dizia que se tivesse uma cápsula de cianeto se suicidava, outro dizia qualquer coisa como "as mulheres de hoje são muito estúpidas. não querem parir e depois quando chegam aos 50 e aos 60 têm logo 5 ou 6 filhos de uma só vez". entre muitas outras coisas que não vale a pena reproduzir. mas de certeza que isto me afectou.

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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