"Nada torna, nada se repete, porque tudo é real."
*Alberto Caeiro

sexta-feira, dezembro 15, 2006

De ti guardo uma fotografia pendurada na parede
De uma casa que não é minha
Guardo os teus olhos, verdes de esconder o nascer do sol nos campos
Era terra a carne que trazias debaixo da pele
Era água o vermelho que te corria nas veias
Adivinho que sorriste mais do que posso lembrar-me

Porque é verdade que não te trago senão nesta mão cheia de Outonos
É verdade que junto às folhas secas recordo o cheiro da lenha que ardia
Nos Invernos
Foste tu que plantaste a primeira tristeza que descobri no olhar da minha mãe
A roupa preta a mascarar-lhe a saudade que nenhum pedaço de futuro sacia

É verdade que te olho no reflexo de todas as fontes
E depois trago-te em gotas geladas para o frio dos meus dedos
És uma memória que gosto de pendurar nos ramos das árvores de natal
Dezembro foi o mês em que começaste a desaparecer-nos dos dias

Eu tinha tudo ainda pela frente e nem reparava em quão efémero pode ser um sorriso

Se há coisa que não esqueço é o teu adeus
Mas nem sequer me lembro do dia, nem da hora

Sei que era manhã e fazia frio
E devo ter corrido nessa tarde
E devo ter rido de nada

Herdei-te um pedaço do verde dos teus olhos
E exibo-o a torto e a direito
Invernos fora

Tu, José, fazes-me acreditar que há vida ainda para te conhecer melhor
Porque ninguém sobrevive apenas em retratos pendurados em paredes
Nem em memórias que se visitam de olhos abertos

Acende-se uma ave nos céus e eu sei que é noite

E sorrio à ideia de te ter escrito este poema que nunca poderias ter lido

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a entropia é a minha religião. alterno a leitura da bíblia com a interpretação de mapas e mãos. bebo, preferencialmente, azul. tenho, ainda, o hábito de escrever cartas_

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